✤ Música Tema | Voz | Ficha Completa ✤
Ué, que merda de música era essa? Clássica, é, tá, mas Silas tinha certeza de que existiam músicas clássicas mais animadas do que as que estavam mutilando seus ouvidos atualmente. Grunhiu, jogando as madeixas tingidas de branco impecavelmente arrumadas para trás e bebericando mais um pouco do vinho rubro em suas mãos, o que fizera seus lábios e seu rosto contorcerem-se como se houvesse acabado de beber urina de gato. Talvez a bebida fosse demasiado refinada para sua pessoa – seus tempos de menino rico ficaram no passado, afinal. Era agora um cidadão comum que estudava artes gráficas e tentava a sorte com as editoras mixurucas do Kansas que infelizmente não pareciam entender o conteúdo promissor de seus livros. São todos imbecis, indignava-se, preferem uma história de vampiros que brilham a algo historicamente trágico, esses filhos da puta.
Entretanto não estava ali para lamuriar-se, certo? O baixinho aproximou-se então da gigantesca mesa onde os salgados e doces repousavam, passando a ponta da unha curta no glacê de baunilha de uma das tortas e rapidamente enfiando-a na boca. Oh, até que eles sabiam cozinhar! Subitamente mais animado, largou a horrorosa taça de vinho praticamente cheia nas “bandejas flutuantes” do primeiro garçom que apareceu e passou a atacar os doces, a esta altura já esquecendo de toda a educação requintada que recebera na infância. Porém a gula não durou muito, já que logo a esmeralda que chamava de olho avistou... Enroladinhos de salsicha. Ai. Meu. Deus.
Somente faltava dar pulinhos para expressar a alegria que invadiu seu corpinho magro nesse instante. O dinamarquês caolho era enlouquecido por salsichas, em especial pelas alemãs. Salsichas eram uma das poucas comidas salgadas que conseguiam fazer seus vinte e quatro anos irem pro ralo. Com um suspiro entusiasmado, pegou um pratinho e pôs quatro enroladinhos pequenos com um guardanapo antes de afastar-se. Andava sem pressa e com uma postura elegante, enrolando seus finos dedos num dos salgados e dando leves mordidas. Algumas coisas eram feitas para serem apreciadas a longo prazo, oras.
Seus pés acabaram levando-o ao salão de jogos, o qual imediatamente teve o efeito de assombrá-lo. Uou, quantas máquinas! E quanto dinheiro! O design parecia antiquado, então abri-las não seria difícil. Ah, não que fosse fazê-lo, é claro; levava uma vida justa. Pegar emprestado saquinhos de Doritos do supermercado não era exatamente um roubo, já que eram devolvidos depois de uns dias. Obviamente vazios e canibalmente rasgados, mas eram devolvidos. Esconder caixinhas de suco, chicletes e doces no casaco também eram exceções. Sair do McDonalds e do Bob’s sem pagar eram casos à parte, também.
De qualquer maneira, logo Silas fixou o olhar numa moça alta e loira a poucos metros de si. Teria ignorado-a senão fosse por seus olhos; espera, não era possível... Isso... Estaria presenciando um caso de heterocromia? Alargando o canto dos lábios carnudos em um sorriso impressionado, aproximou-se da jovem com pouca hesitação e fitou seu rosto, dando outro sorrisinho ao confirmar suas suspeitas – embora precisasse levantar a cabeça como uma criança. Eita carvalhos, essa é alta!
– Boa noite, senhorita. Você tem heterocromia, né? Seus olhos são muito bonitos! – Exclamou com delicadeza. Sua voz era mansa e baixa, mas expressava uma tranquilidade imensurável. – Sabe, uma vez eu conheci um cara que tinha um olho azul e o outro verde, mas aí ele morreu atropelado. – Comentou, dando uma mordida pequena num dos enroladinhos. Silas não pensava antes de falar, e aí estava um de seus mais clássicos exemplos. Não que se importasse; geralmente dizia o que achava ser interessante. – Ah, meu nome é Silas!
Tenha santa paciência.