(☞ﾟ∀ﾟ)☞ RPG

Esconder-se daqueles caras não parecia uma tarefa muito difícil quando estavam todos concentrados em localizar um grupo consideravelmente maior. Knut conseguiu observar de longe enquanto aquelas pessoas tentavam uma estratégia de escape, mas não estava seguro o suficiente para seguí-los. Alguns estavam armados e, até um primeiro momento, eram todos desconhecidos. Aliás, como conseguiria reconhecer alguém tão de longe e no meio de tanta adrenalina? Seria dificílimo para o alemão, que encontrava-se em um combate interior entre sua calma e seu desespero. Além de fugir, se proteger e manter-se são, ainda se preocupava com o moreno ao seu lado. Observava toda a ação por trás de uma pequena janela, escondendo-se na escuridão dos corredores enquanto tentava pensar em algo decente para sair dali. Quando se deu conta, tudo estava silencioso e o ar parecia deveras rarefeito. Os olhos azuis lacrimejaram e sua expressão não era das melhores quando finalmente se deu conta do que acontecia; ao caminhar para o lado oposto do corredor percebeu a fumaça negra surgindo lentamente. Fogo. Estavam queimando a mansão propositalmente ou havia sido um acidente? Respirou fundo enquanto ainda estava no corredor, onde o ar estava estável. Ao encostar a cabeça na parede e observar por uma das laterais da porta, via mesas, cortinas e corpos em chamas. Aquilo era dramaticamente bonito, mas sabia que se não saísse dali viraria churrasco em menos de dois minutos.

- Temos que ir embora tipo, agora. Deixemos a nossa discussão infantil para mais tarde. - resmungou para Alex, não se importando se falava alto demais. O lugar já estava vazio! Haviam se tornado tão lentos a ponto de ficarem completamente vulneráveis no meio de um incêndio? Knut revirou os olhos vagarosamente, sentindo-se um completo idiota. Agora a única coisa útil que poderia fazer era tentar escapar vivo e rezar para que não o vissem quando saísse da mansão.

Não estranhava o silêncio do moreno em um primeiro momento, mas ao pensar novamente percebeu que ele não ficaria quieto numa situação dessas. Pelo menos não o Alexander de dois minutos atrás, que estava pronto para vomitar suas ironias à qualquer momento. Voltou, então, ao canto escuro do corredor, forçando os olhos para conseguir encontrar o outro. Quando aquela fumaça havia se tornado tão espessa? Ao chegar cerca de três metros de distância o viu sentado no chão, a cabeça tombando em um dos ombros enquanto as mãos jaziam inertes ao lado das pernas imóveis. Naquela posição, Alex parecia uma marionete - ou um cadáver muito bem conservado. Observou-o por cerca de dez segundos antes de se lembrar dos pulmões do rapaz, que eram sensíveis o suficiente para que houvesse a necessidade de uma máscara de gás. É, Knut, seu amado morrerá logo após uma discussão, sem chances para remorso.

- Isso é hora de desmaiar? Agora eu vou ter que te carregar no meio de um puta incêndio. Minha mobilidade diminuirá pela metade, seu gigante. - resmungava, retirando o blazer para cobrir o rosto do outro. Esperava que aquilo filtrasse um pouco a fumaça, mas sabia que deveria ir rapidamente para um lugar mais arejado. Abaixou-se para segurá-lo e logo Alex estava em suas costas. Mesmo sendo magro daquela forma ele era pesado, mas já havia se acostumado com aquele corpo há muito tempo.

Corria feito um doido no meio daquela confusão, tropeçando em corpos e desviando de objetos em chamas numa sede de sobrevivência. Agradecia mentalmente pela existência da adrenalina, que dava-lhe habilidades inimagináveis como correr com setenta quilos nas costas. O salão de festas era grande o suficiente para que o fogo não se alastrasse em seu centro com rapidez, e também não havia nada de inflamável em seu interior. O fogo estava concentrado próximo às paredes, onde estavam as cortinas, mesas de comida e os sofás localizados estrategicamente para quem quisesse observar tudo de longe - e se esconder num tiroteio. Seu maior problema agora era a fumaça, que limitava a visão e a respiração de maneira trágica. Após um tempo, não conseguia mais correr e não poderia respirar fundo para recuperar-se. Não sabia onde estava e nem onde era a saída. Knut estava prestes à entrar em um estado caótico de desespero quando avistou cerca de quatro ou cinco vultos distantes, imaginando se estava alucinando ou alguém realmente passava por ali. Não seria impossível enxergar vultos com aquela fumaça? Ou ele estava louco ou eles estavam próximos, mas decidiu apegar-se a segunda opção. Se fossem seguranças estaria morto, mas também morreria se ficasse parado ali. E o pior, seria incapaz de salvar Alex; o orgulho do loiro sempre falava mais alto do que tudo.

Aproximou-se do grupo em passos lentamente calculados, vendo-os por trás enquanto percebia que eram mais do que cinco pessoas. Aproximar-se pelas costas era certamente a coisa mais estúpida a se fazer, porém os armados estavam indo na frente e, se virassem para atirar, poderia se proteger em um dos outros corpos. Era impossível distinguir seus rostos e trajes, não permitindo que Knut soubesse se eram conhecidos ou não. - Espero que todos vocês sejam loucos o suficiente para permitirem que alguém desarmado os siga. - murmurou, posicionando-se estrategicamente atrás de um dos caras. - E também espero que conheçam a saída, pois isso está ficando insuportável.

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Surgindo das trevas pq bateu saudade. :'D (e a caah tava enchendo o saco nnn)

Sahara Mayr

✩:

Nunca me interessei muito por cadáveres; Em chamas, ainda menos. Aquilo fedia pra cacete. Não sabia o que era pior: A chance de morrer ou a visão das chamas consumindo quem já passou dessa pra melhor. Não queria ser enterrada. Ter larvas devorando meu corpo não era a minha melhor ideia de como passar a eternidade, obrigada. Ser cremada parece mais ideal – e isso, talvez, aconteça hoje. Emocionante? Eu diria inconveniente. Tinha planos para as próximas duas semanas, e precisava realiza-los.

Pude ver Cameron e Abel se aproximando enquanto estávamos parados contemplando aquele cemitério em tempo real. Quase senti os canapés de mais cedo girando em meu estômago pela aparência – e cheiro – da coisa. Admito que foi uma surpresa que alguém de fato conseguisse ler aquilo; E uma surpresa ainda maior que justo o ABC o fizesse. — Rapaz, sua visão é mutante. — arqueei as sobrancelhas, virando-me para Abel com um sorrisinho satisfeito. — Só não ouse deixar essa perna te matar, ouviu? — depositando dois tapinhas leves em sua bochecha com certa preocupação, voltei a prestar atenção no tal aquário.

Aquários costumam ter água, e isso chega a ser animador quando se está num incêndio. Especialmente porque o cômodo não parecia estar em chamas. Então, num misto de pressa e intuição, comecei a me dirigir para a porta de vidro, esperando que todo aquele pessoal continuasse a me seguir. Ouvi mais alguém se juntar ao grupo, suspirando. — Só não faça merda, sr. Desarmado. — pelo o que me lembrava, Tasha, Mortem e mais algumas pessoas ainda estavam no quartinho. Foram burros o suficiente para não nos seguir, realmente? Bem, ao menos a polícia acharia alguns cadáveres procurados – porque eu juro que vou passar desse incêndio idiota, e passar viva.

Franzi as sobrancelhas ao escutar partes da estrutura caírem, quebrando-se no salão; entre elas, um lustre especialmente bonito. Quanto esse lugar valia? Quanto dinheiro estava sendo perdido nessa brincadeira? Céus, chegava a ser assustador.

Àquela confusão toda começava a deixar Seth atordoado, o que não era absolutamente bom para ninguém, diga-se de passagem. Entretanto, ao escutar o xingamento da loira em um dialeto desconhecido por ele, nada mais fez do que franzir o cenho, tentando imaginar o que significava “sarnento” ao mesmo tempo em que corria na direção à porta de vidro que Sahara apontava. Não foi possível degustar da expressão irritada de Sonero , mas não era nem um pouco difícil imaginá-la em sua mente, apesar da fumaceira toda.

Tossia repetidas vezes, um número o suficiente para ter em mente que, depois dessa, seu pulmão fodido pelo cigarro não duraria mais dois anos sequer. Adentrou a possível saída com pressa, ainda não que cauteloso quanto a uma emboscada, portava a arma em guarda alto o tempo todo, mesmo que começasse a ficar um tanto irritado de não poder usá-la ainda. - Um aquário? – Indagou para si ao observar os enormes tanques laterais, repletos de criaturas marinhas, que se encontravam um tanto atordoadas com o barulho colossal que fazia na parte de fora.
- Mas que diabos...Qual a utilidade disso? – Soltou um bufo seguido de uma risada abafada, esfregando rapidamente o antebraço dos olhos, tentando retornar o foco na visão embaçada pela fumaça. Na concepção do alemão, ricos eram uma raça patética que sempre planejavam coisas inúteis e sem sentido.

Apesar de tudo, não pôde deixar de morder a própria língua ao notar uns tubarões que passeavam de um lado para o outro, irritados e confusos, fazendo com que a atenção de Seth fosse completamente capturada. – Wow, tubarões.– Disse com entusiasmo, segurando a arma com um das mãos enquanto batia levemente no vidro com a ponta desta para provocá-los ainda mais. – Podíamos jogar alguém aqui dentro pra os ver comendo. O que acham? – Indagou irônico aos outros, enquanto dividia sua atenção entre o aquário e os passos alheios.

Ouviu os outros conversarem mais um pouco e se perguntou como eles tinham fôlego para continuar falando, só conseguindo entender que a única saída era mesmo o tal “aquário”, visto que não tinham qualquer outro plano em mente. Assim que começaram a se locomover até lá, notou que mais alguém havia se juntado ao grupo mas não deu muita importância, era óbvio que sair dali vivo era como se fosse um tipo de preferencial. Embora o italiano fosse muito pouco sensível para notar a gama de coisas importantes envolvendo a necessidade de “continuar vivendo”.

Enfim parou de devanear sobre os motivos dos outros que estavam no quartinho não terem os seguido e, assim que entraram pela porta avistada pela ruiva, tentou respirar com mais calma, mesmo que estivesse sentindo fuligem em sua garganta e tivesse certeza de que aquilo iria lhe causar alguma doença pior ainda depois. No entanto, enquanto tossia sem muita força, deu uma olhada no local em que se encontravam, logo levantando sutilmente as sobrancelhas ao perceber que era bem bonito. Um aquário no meio da mansão, e um cheio de animais marinhos bonitos, embora estivessem desnorteados por conta dos barulhos e quentura que o incêndio proporcionara. Enquanto pensava sobre o prazer estético que aquele aquário dava, ouviu o comentário de Seth e voltou o olhar feio para ele; sabendo que era óbvio que o ser idiota ali não entenderia o gosto alheio pela biologia marinha.

Pelo menos, enquanto se recuperava um pouco do ar sujo do lado de fora e esfregava de leve os olhos afim de fazê-los parar de arder, podia apreciar mesmo que minimamente os animais dentro do aquário, bem como o brilho azulado que a água fazia em todos os cantos e dava um ar místico e interessante ao recinto. Realmente era o tipo de cenário que só uma pessoa muito rica podia apreciar. Entretanto, foi tirado de seus pensamentos pouco produtivos quando ouviu o último comentário de Seth, e teve de entortar as sobrancelhas, num ar estranhado, como se tivesse notado que o alemão parecia uma criança de vez em quando, mesmo que já soubesse disso e não se cansasse de ser pêgo de surpresa pelas frases bestas do loiro. - Esse 'alguém' podia ser você. Não vai fazer falta, mendigo. - Comentou quase automaticamente, realmente só seguindo seu instinto de desgosto para com as pessoas e também não se importando com o fato de Seth estar com uma metralhadora não mão, e o alemão já devia saber disso.

Prudence G. Great
Assim que adentrou o recinto, após correr pra caralho atrás dos demais, Prudence assobiou. Seus orbes heterocromáticos vagavam pelo quarto, enquanto afrouxava o aperto de sua mão sobre a ex. Não pode deixar de caminhar um pouco mais para dentro do aquário, parando somente ao alcançar um tanque de peixes com um cardume próximo ao vidro. Com o cano do silenciador, deu duas batidinhas em um dos aquários, vendo os peixes desorientados fugirem para outro canto com um sorriso de canto. No final, eles vão virar peixe frito, pensou. Virou-se novamente para a ruiva, e, diferente de antes, olhou a com neutralidade, dizendo em um tom calmo:
– O que foi? – Referiu-se ao momento em que Meredith não parava de chama-la, alguns instantes atrás.  Porém não rendeu muito tempo esperando a resposta, pois log teve que segurar a risada a escutar a resposta do ‘baixinho’ ao comentário nada agradável do loiro sarnento.
– Infelizmente não podemos ‘perder’ ninguém. Precisamos de gente para a fuga. – Murmurou, levemente irritadiça. É, seria louco ver alguém sendo comido pelos tubarões.

Knut apenas seguia os outros silenciosamente, tomando cuidado em cada passo para que não caísse ou, pior, derrubasse algo. Sabia que qualquer ruído provindo do loiro chamaria a atenção do restante e isso era o que menos desejava naquele momento. Prendia a respiração por cerca de quinze segundos antes de respirar novamente, tentando calcular quanto tempo ainda lhe restava antes que vomitasse ou desmaiasse. Céus, por quê diabos aquelas pessoas insistiam em conversar ao invés de simplesmente fugir? Quando estivessem todos seguros do lado de fora poderiam até acender uma fogueira e tostar marshmallows, mas agora certamente não era a hora certa para papo furado.

Pelos vestígios de conversa que conseguia captar - infelizmente seu cérebro se concentrava demais em manter-se vivo e de menos em trocar umas ideias - os fugitivos encontraram uma porta com alguma placa estranha e hesitaram por milésimos de segundos antes de abrí-la. Todos foram entrando o mais rápido possível e o alemão foi um dos últimos, não deixando-se abalar pela bela paisagem que tinham ali dentro. Qual o sentido de ter um aquário dentro de casa? Coçou os olhos com a mão livre e respirou fundo, aproveitando o ar ligeiramente melhor do recinto. Não queria se envolver com aquelas pessoas, mas ao vê-las novamente conversando, agora sobre "jogar alguém para os tubarões", os olhos azuis reviraram-se automaticamente.

- Na verdade, quanto menor o grupo mais chances de sobrevivência. Não acham que uma porção de gente escapando será mais visível do que um pequeno grupo? - resmungava, demonstrando mais antipatia do que nunca, ao mesmo tempo que escondia um sorriso pelo comentário do baixinho. Imaginava que após dizer algo tão inteligente ele mesmo seria jogado dentro do aquário, mas não conseguia conter suas palavras. O problema é que não se importava quando se tratava dos desconhecidos, mas sabia que o grupo nunca eliminaria um dos seus companheiros. Esse era o grande problema do rapaz, a incapacidade de manter-se trabalhando em equipe por um longo período de tempo.

Ajeitou Alex em seu ombro, retirando temporariamente o blazer de seu rosto para que respirasse um pouco e logo colocando-o no lugar novamente. Por não saber a saída permaneceu imóvel, esperando que alguém com um pouco mais de bom senso comandasse todo mundo pra fora dali. Só esperava que acontecesse rápido, antes que o calor estourasse aquele lugar e virassem apenas restos mortais.

Talvez a ideia de possuir um aquário repleto de tubarões não fosse tão fútil assim, quer dizer, na concepção de Seth, ao menos seria interessante observá-los se alimentar e estraçalhar a carne de outros animais menores. Diferente de muitos, aqueles animais sanguinários não lhe causavam repulsa, mas sim curiosidade; obviamente não era louco o suficiente para se jogar entre eles, talvez justamente por isso os respeitasse tanto. O significado da palavra medo era praticamente desconhecido pelo alemão, e, situações que lhe causavam desconforto, sempre soavam interessantes na sua concepção distorcida.

Os olhos azulados observavam atentamente o movimento atordoado dos animais, entortando os lábios ao imaginar que seriam facilmente mortos quando o fogo atingisse a região do aquário, resmungando mentalmente sobre a impossibilidade de ao menos vê-los interagir entre si. Somente voltou sua atenção para a situação ao ouvir o comentário de Sonero, fazendo-o soltar uma risada imediata, ao mesmo tempo em que virava o corpo com a intenção de fitá-lo. - E se eu fosse você, baixinho insolente, eu calaria a boca... Já fiz marcas nesse corpo bem maiores do que esses tubarões fariam. – Seth sorriu largamente, passando a ponta da língua pelos caninos, enquanto se aproximava o suficiente para roçar a ponta da metralhadora pelo traseiro do menor, soltando outra risada sarcástica.

Ao terminar a pequena brincadeira, voltou sua atenção para os comentários alheios, revirando os olhos com o discurso da loira sobre “precisamos de gente pra fuga” ou “quanto mais gente, melhor”.  Não, na concepção do alemão, a história era bem diferente. Preparou-se para entreabrir a boca e opinar nada eloquentemente, entretanto, a resposta do rapaz de longos cabelos platinados o fizera somente estalar a língua no céu da boca e estalar o dedo em concordância. - Concordo com o Rapunzel aí, jogar alguém vai ser divertido e estratégico. – Disse aos demais, mesmo que seu raciocínio não fosse obviamente nada inteligente quanto ao do rapaz, mas ninguém precisava saber disso.

Seth sorriu cinicamente, fazendo questão de ignorar o “blábláblá” dos outros para apontar a arma na direção de cada um dos criminosos, se divertindo imensamente com a expressão aterrorizada de alguns com o ato repentino. - E o sorteado vai ser... – Disse entre risos, brincando a metralhadora a bel prazer, mesmo que deixasse os olhos atentos a qualquer ação dos outros igualmente armados. - Ah, esqueçam, carne podre é urubu que gosta. – Finalizou a brincadeira abaixando novamente a arma, rindo tanto ao ponto de curvar-se levemente por conta de dores abdominais pela risada intensa.

Talvez com a distração momentânea, nem ao menos notou a presença do tal policial, que se ridiculamente se atirou contra si, fazendo-o cair ao tropeçar entre as próprias pernas longas, sentindo um soco repentino da face, soltando de impulso a metralhadora da mão. - Seu filho da puta, eu vou te matar... – A diversão de outrora de se tornou ira, segurando o fardado pela gola da veste, depositando um soco tão forte que o fez cair de costas, oportunidade perfeita para o alemão montar por cima, distribuindo fortes socos na face rechonchuda do homem. Os olhos azulados flamejavam de raiva, mesmo que no rosto aparecesse o sorriso sádico ao ver o sangue alheio jorrar, ação que fazia jus ao apelido de “cachorro louco”. Sem dúvida, se não interrompessem o alemão de alguma forma, ele acabaria com aquele sujeito insolente ali mesmo, sem dó nem piedade.

Prudence G. Great
Não se surpreendeu quando alguns contrariaram sua opinião. O bate-boca começou e, por incrível que pareça, não se interessou nem um pouco. Estava ocupada observando Meredith, que parecia encarar os tubarões com dó. Sabia que sua ex adorava os seres vivos (bem, uma parcela deles ao menos), e que ela provavelmente se culparia por uns meses pelo fato de que não saiu carregando um tubarão no colo. Seus orbes se focaram no único tanque sem água ali. Se perguntou o que vivia ali e quando se livrou do aperto de Meredith, chegou perto do vidro.
Sua boca se abriu e as sobrancelhas se franziram, num olhar que facilmente significaria “Own meu Deus!”. Naquele espacinho viu um ser de pelugem marrom deitado nas pedras, respirando com calma. Nunca viu um bicho igual, e, aquele cômodo não fosse um aquário, chutaria que era um chihuahua. Não sabia sequer o Filo do animal, mas o achou fofo. Decidiu que o daria para Meredith como uma forma de se desculpar, sabendo que no fundo ela entenderia o sentido do presente. Agarrou uma maçaneta bem discreta no canto do vidro e fez uma força considerável para abrir a porta transparente.
O ar dentro do tanque estava tão limpo que até estranhou a mudança de clima. Fechou a porta para a fumaça não entrar tanto e se virou, com um sorriso nos lábios. Notou que o bichinho ergueu a cabeça para si, como se perguntasse “Que que tú tá fazendo no meu canto piranha?!”, e mostrou os dentinhos da frente, num grunhido estranho. “Oh! É uma lontra!” Concluiu, após perceber a espécie do ser marrom.
– Hey fofura... Venha com a tia Prue! Você vai ganhar uma bela coleira da minha ruivinha... – Repreendeu-se com uma careta ao chamar Meredith de “minha ruivinha”. Quando diabos a chamara assim pela última vez? Sem mais espera, avançou em passos rápidos e agarrou a pequena criatura pelo cangote. O ser se debateu por um instante, mas subitamente parou, o que fez a loira estranhar. Colocou o bichinho no colo tranquilamente, dedicando alguns segundos para acariciar a pele ainda úmida do ser.
Sentiu algo quente molhar seu braço e deu um pulo. “Filha da Puta! Mijou em mim...” Murmurou, tentando enxergar o braço. Não soltou o bichinho, o aconchegou de maneira que usasse somente um braço para carregar cerca de quatro quilos de fofura. Seus olhos se arregalaram ao perceber um ferimento na coxa do animal, imediatamente arrancou um dos pedaços restantes da saia do que já foi um vestido. Pressionou a pequena fissura, impedindo o sangue de sair.
Saiu do tanque em passos velozes, não ligando para seja lá o que ocorria ali. Encontrou o ser ruivo que amava e, após chamar sua atenção ao limpar a garganta, estendeu o animal que repousava em seu colo.
– Presente. É muita coisa para conversar agora, ainda mais nessa situação, então... – Suspirou, olhando para os lados. Voltou o olhar para Meredith e, num susto, virou a cabeça para quatro figuras. Eles... Estavam se socando? Huh? – ... Depois conversamos! – Disse, deslocando-se rapidamente para a briga.
Franziu as sobrancelhas e, antes de enfiar a mão em todos ali, analisou a situação: Seth tentava matar um cara que brotou do nada. Cameron e Sahara levavam cotoveladas enquanto seguravam o loiro, que ainda tinha as mãos no homem. Levaria uns chutes do loiro? Obvio, mas sentiu-se na responsabilidade de tirar as mãos do sarnento daquele rapaz feio. Certo que ele tinha ‘cara de querer apanhar’, mas agora ainda não é a hora para meter porrada. Tendo a certeza de que poderiam interroga-lo depois, simplesmente chegou na briga se agachando e agarrando um braço do mexicano (uh, ele tinha uma puta cara de “made in mexico”), numa tentativa de soltar as mãos de Seth dele . Fez força para trás, dando alguns passos ao ver que os três conseguiam separar a briga as poucos.
– Solta esse mexicano! Solta! – Gritou como brigava com Vodka, sua cadela agressiva. A única diferença é que Vodka escuta a loira e, provavelmente, a última coisa que Seth faria é escutar uma palavra dela.
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Abel Bonfils C.
Talvez até um cego em um tiroteio estaria menos perdido que Abel. O moreno observava tudo calado, sentindo em sua perna os pontos lhe incomodarem vez ou outra. Distraiu-se tão profundamente numa história inventada agora há pouco, em que o tubarão do tanque de repente criou perninhas e saiu arrancando pedaços de todos ali, que somente acordou ao ver a arma (bem que poderia ser a de baixo) de Seth apontada para si. Arqueou as sobrancelhas, não esboçando nenhuma reação a não ser revirar os olhos. Não estava com saco para ficar ali, seu pulmão o fazia tossir com tanta força que já sentia toda a comida refinada que enfiou em seu estomago pedir para voltar.
Subitamente voltou o olhar para o loiro alemão, que se encontrava em cima de um cara. Começou a rir assim que Cameron o largou num canto, não se importando com a pontada de dor que sentiu ao se encontrar o com o chão. Existe algo mais cômico do que uma ruiva dando um mata leão num loiro enfurecido, enquanto o pobre moreno estava quase beijando o chão? E de praxe o rosto do outra cara já sangrava pra caramba, tornando tudo aquilo um circo para o russo.
– Hell! Eu morri e cheguei na área VIP! – Por cinco segundos realmente achou que estava curtindo um calorzinho no inferno.
A loirinha que encontrara numa festa há uns meses apareceu em seu campo de visão. Ele a ignoraria -ou melhor, tentaria achar um vestígio de bunda para olhar, mas infelizmente focou em seus braços. Viu um ser vivo descansando ali; Não um ser qualquer, mas aquele bicho que atormenta sua vida: uma lontra. Começou a soltar grunhidos altos e estranho, ainda mais quando o bicho olhou para si em um milissegundo.
– MATA ESSA PORRA! – Fez silêncio por um instante, tempo suficiente para abraçar os próprios braços. Virou a cabeça para uma direção qualquer, que não fosse focada na lontrinha, e voltou a soltar seus grunhidos como um gato raivoso, tossindo com força ocasionalmente.

Ficou por poucos segundos fitando os tubarões e demais criaturas agoniadas dentro do aquário antes de receber a resposta de Seth e, de alguma forma, já esperava que o outro fosse reagir daquele jeito. Somente bufou e virou um pouco o rosto quando o alemão se aproximou, no entanto não pôde se afastar muio deste por conta da metralhadora que, inconvenientemente, passou em seu traseiro e o fez se envergar um pouco para frente, desgostoso daquele contato. Enfim voltou o olhar irritadiço para o loiro e levantou de leve uma das sobrancelhas. - Marcas? - Perguntou ironicamente, se referindo ao fato de que não transavam há algumas semanas e provavelmente as marcas já haviam se apagado, no entanto, não achou que aquele sarnento entenderia.

Quando finalmente o outro se distanciou, teve de respirar fundo e soltar o ar calmamente, para tentar pelo menos melhorar a situação para os seus pulmões castigados pelo incêndio, porém, fez mais tossir do que soltar o ar, então deduziu que a situação só tendia a piorar. Voltou a levantar o olhar e, depois de alguns segundos sem prestar muita atenção no que os outros falavam, teve de levantar as pálpebras consideravelmente ao ver um homem, que apareceu do nada, se atirar contra Seth na intenção de atacá-lo. Entreabriu de leve os lábios mas percebeu que a situação era tão estranha que nem tinha o que falar, somente supôs que o tal homem podia ser mais burro que o mendigo, afinal, qual o grande plano por trás de pular num cara de quase dois metros de altura e com uma metralhadora na mão?

No entanto, assim que notou o quanto o alemão estava puto, só o que fez foi cruzar os braços e fitar a cena; tendo até que se distanciar uns dois passos por conta do sangue do, aparente, mexicano que saltava de sua boca a cada soco que recebia do loiro. Ficou ali alguns segundos, encolhendo um pouco os ombros ao ouvir aqui e ali os murros de Seth gerarem algum som de deslocamento provindo dos ossos injuriados do homem, mas não deixava de olhar para a cena sem muita expressão, só parecia estar analisando a situação cientificamente. Parecia óbvio o fato de que poderiam retirar alguma informação do latino antes de matá-lo, mas não iria conseguir nada além de um bela morte por espancamento caso se aproximasse de Seth, então continuou na sua mais perfeita inércia.

Mas, assim que um rapaz começou a tentar retirar Seth de cima do pobre homem burro, percebeu que talvez ainda tivessem chance de usá-lo para ter informações, afinal, os outros integrantes do bando de criminosos - no qual Sonero não se inseria por motivos óbvios - pareciam ter tido a mesma ideia. Logo que ouviu outra voz, levantou os olhos cristalinos para uma ruiva que também resolveu separar o loiro do homem que já estava com a roupa bastante ensanguentada e deduziu que talvez fossem o bastante para apartar a briga, enquanto que a loira de antes tentava puxar o mexicano como se estivesse querendo tirar um brinquedo da boca de um cachorro raivoso. Ficou fitando a cena por mais alguns segundos, percebendo como aquilo parecia ligeiramente cômico e de baixo nível e ao mesmo tempo era completamente fora de sua realidade ver toda aquela violência ao vivo.

Enfim, quando notou que Seth só parecia precisar daquela esguichada de água básica no focinho para que recuasse e parasse com a tentativa de assassinato, apalpou os bolsos internos do paletó até envolver os dedos numa latinha de uns dois dedos de grossura e uns oito a dez centímetros de altura; aquela coisinha pequena chamada spray de pimenta com certeza arderia como o inferno, já que Sonero fazia questão de comprar dos mais fortes que tivesse na loja, mas provavelmente o alemão ficaria bem e talvez mais tarde ele não o matasse de forma mais violenta do que os tubarões o fariam. Balançou de leve o spray e, assim que viu uma brecha quando os dois conseguiram segurar parcialmente o loiro, apertou o botãozinho e o jato rápido foi certeiro na pálpebra direita de Seth.

Não é preciso muito spray, ou uma boa mira, para ter o resultado esperado; este que se resume no acuamento da pessoa injuriada pela ardência de forma que a agonia de ter os olhos atacados de forma tão rápida e dolorosa faça a vítima somente querer manter a atenção na cegueira e dor momentânea, embora Sonero soubesse que as consequências do spray iriam irritar Seth por mais uma ou duas semanas até que desaparecessem completamente. Enfim esperou para ver se o loiro havia recuado e, durante alguns segundos, imaginou que, para chegar àquele ponto, ele provavelmente precisava estar encarcerado tanto quanto os animais agoniados dentro do aquário; ou talvez tivesse praticamente o mesmo efeito se tivesse esguichado água em seu rosto? Não, provavelmente Seth estava num estado mais irado do que os cachorros que se pode domesticar. De qualquer forma, o alemão podia se juntar ao cara que havia levado o tiro na perna e ficar rosnando por lá; talvez os dois bichos esquisitos e injuriados se entendessem.

Soltou um pequeno suspiro e guardou o spray rapidamente enquanto já voltava o olhar para o homem que estava tão esmurrado que talvez sua família não reconhecesse seu rosto naquele momento. Se agachou com calma ao lado da cabeça do latino, dando uma olhada rápida para a loira que havia tentado retirá-lo de perto de Seth, e depois de poucos segundos examinando os danos no homem, tocou e deu algumas batidinhas em alguns lugares de sua cara inchada e ensanguentada, para ter certeza de que ele não morreria de hemorragia e que podia falar. - Você é tão burro que provavelmente nem deveria estar vivo. - Interrompeu-se ao esperar para que o homem tossisse sangue e depois voltou bater a ponta do dedo de leve no meio de sua testa para que ele arrecadasse um mínimo de consciência. - Meio vivo. - Corrigiu ao perceber que lhe faltavam alguns dentes e pensou que talvez ele logo morreria engasgado com sangue e seus dentes junto, então resolveu ser mais rápido. - Se souber um caminho para sair daqui, é melhor dizer logo, antes que a sua morte seja realmente inevitável. - Concluiu, abrindo um dos olhos do homem com os dedos, esperando que aquilo lhe desse algum rastro de convicção ao poder enxergar parcialmente a situação em que se encontrava; não que já não fosse óbvio para ele que acabaria morrendo ali se não tivesse ajuda.

Diante de toda aquela cena era difícil para o loiro decidir se ria ou chorava. A parte cômica da situação superava seu medo diante da morte e quase o fazia rir, quebrando a imagem serena que possuía diante dos desconhecidos. Tudo se passava com uma rapidez absurda, a sequência de fatos mais ridícula que via em meses. Pra começar, de onde surgiu aquele cara e por qual motivo decidiu se jogar sobre as costas de um homem armado e aparentemente louco? Nada fazia sentido, mas era justamente isso que agradava o alemão. Ora, se estava prestes a morrer, pelo menos poderia se divertir um pouco.

Continuou em seu canto enquanto armas eram jogadas no chão e pessoas saltavam umas sobre as outras para cessar a briga que rolava à frente, despejando sangue e dentes para tudo quanto é lado. Knut não tinha uma visão privilegiada pois estava consideravelmente longe, então mal entendia o que acontecia; a única coisa que vinha em sua mente era recolher uma das armas deixadas para trás, mas com Alex jogado em suas costas era uma tarefa difícil demais de ser executada - e no estado em que se encontrava o rapaz mal conseguia respirar sozinho, quanto mais abaixar-se para pegar a arma. Ouvia pequenos fragmentos da conversa alheia, mas conseguiu perceber que o ensanguentado não fazia parte do grupo e estavam tentando retirar dele alguma informação.

- O cara já está desfigurado, ciente de que morrerá em minutos. Não há motivo para nos contar algo em troca de proteção, não no meio desse incêndio... - murmurou, baixo o suficiente para que ninguém ouvisse. Não acreditava no fato de estarem tentando arrancar informações dele. Com que tipo de gente Knut havia se metido, afinal?

A mente do alemão estava totalmente preenchida pela intenção de acabar com a raça daquele sujeito insolente; o líquido rubro alheio que escorria em suas mãos somente servia para atiça-lo ainda mais, tal como um touro irritado atraído pelo pano vermelho. Seth era um ser terrivelmente impulsivo e violento, em um nível tão avançado que era praticamente impossível imaginar alguém saindo impune daqueles punhos descontrolados - especialmente alguém tão despreparado como o tal fardado.

Entre as risadas sádicas e os estalos de ossos quebrados, era igualmente possível ouvir o rosnado semelhante a um cachorro feroz, ação singular de alguém que passou a metade da vida sendo comparado a tal. Reação exagerada? Talvez, mas quem conhecia minimamente o loiro, tinha total conhecimento do nível que sua brutalidade podia chegar. A atenção estava totalmente voltada para o corpo praticamente inerte à sua frente, nem ao menos notando de primeira a presença do rapaz que tentava impedi-lo, segurando-o pelas costas; somente notou verdadeiramente as intenções do tal Cameron ao sentir um chute certeiro na costela, fazendo-o virar abruptamente a cabeça para o lado com o incômodo, encarando friamente o mais novo com o cenho franzido e olhar colérico.

– Que porra é essa? Quer salvar o amiguinho e ficar no lugar dele? – Indagou retoricamente ao outro, forçando um meio sorriso irritado, dando uma forte cotovelada no peito de Cameron. Não houve tempo para revidar com mais agressões, já que sentiu o outro braço ser imobilizado pela ruiva, soltando um rosnado ainda mais furioso, continuando a forçar os braços com a intenção de prosseguir com o ataque ao policial. – Me soltem, seus malditos! – Exigiu irritado, igualmente forçando o cotovelo e o punho da direção da moça, acertando alguns golpes no estômago e face de ambos.

Para sua infelicidade, a persistência dos – a ver seu – traidores, estava funcionando, ainda mais ao observar Prudence arrastando o policial para trás, protegendo-o. Continuava com movimentos brutos, o suficiente para conseguir depositar mais chutes do rosto desfigurado do homem, enquanto ria descontroladamente entre xingamentos na língua natal e o inglês para os “companheiros”. Estava prestes a conseguir se soltar e quebrar tudo novamente até que, quando menos esperava, sentiu um jato ardente como o inferno na pálpebra, onde rapidamente se alastrou por toda a visão. – FILHO DA PUTA, EU VOU TE MATAR! – Vociferou com ira, se desprendendo por conta própria dos braços alheios, levando ambas as mãos até os olhos que lacrimejavam e ferviam como larva, tossindo e esfregando-os inutilmente, enquanto desprendia a perna de cima do latino, deixando-o finalmente livre. Seth sabia exatamente quem havia feito aquilo, era de se esperar aquele baixinho maldito se juntasse ao time das traíras, ainda mais tendo o prazer de jogar aquela merda na sua cara.  

Em um ataque de fúria, acabou por socar o estômago de alguém a sua frente, nem ao menos sabendo quem era o atingido, visto que não conseguia enxergar absolutamente nada. Em seguida, o alemão se levantou desengonçadamente para o lado oposto, continuando com as reações ao produto e as juras de morte. Era bom que pedissem aos céus que aquele produto durasse tempo o suficiente para o cachorro louco se acalmar, caso o contrário, nada o impediria de, no mínimo, desfigurar todos os envolvidos naquela palhaçada.

✤ Música Tema | Voz | Ficha Completa ✤



O dinamarquês havia desistido de tentar compreender as cabeças de tamanhos marginais. Após assegurar-se de que o menino esquizofrênico estava mais calmo, as cenas, discussões e brigas seguintes passaram como um borrão por seus olhos à esta altura indiferentes. A dor constante em seu ombro direito instigava-o a pedir auxílio ao italiano birrento, mas quem disse que o faria? Uma bala presa em seu músculo não podia ser tão ruim. Até porque certamente depois veria um médico, certo? Não era como se fosse ficar com o resto da manada por muito tempo, afinal. Ou ao menos esperava que não; pareciam-lhe loucos em demasia para sua mente sã. Ah, a não ser o birrentinho – o moreno aparentava estar com a cabeça no lugar. Talvez fosse o mais pirado de todos ali, entretanto Amadeus estava de alguma forma tentando consolar-se com a possibilidade de haver alguém racional por aí. Um suspiro abandonou-o ante a intensificação dos argumentos, optando enfim por apenas jogar os cabelos brancos para trás e “seguir a maré”. Já nem mesmo importava-se com seu complexo a respeito do tapa-olho, tacou um belo foda-se na vida.

[Insira aqui um grande parágrafo que cubra os momentos da treta e cia com Silas rasgando a camisa várias vezes para trocar a bandagem do ombro. Q]

Ah, o aquário. Seria bobagem pensar que uma mansão grande como essa não teria um maldito aquário. E o que havia ali? Peixes. Mil horrendos peixes em cada tanque, em cada canto, em cada metro quadrado: era peixe que não acabava mais. Não que seja fresco, mas Silas simplesmente detestava o odor de qualquer criatura marítima – achava algumas bonitas, contudo ainda preferia gatinhos e cachorrinhos. Oras, faça-lhe o favor, peixes eram tão sem-graça! Que faziam ademais de beiços e bolhas? O albino estremeceu, ligeiramente enojado com o cheiro que invadiu-lhe as narinas ao aproximar-se de um tanque d’água. De nariz torcido, ombro ensanguentado e abdômen praticamente à mostra, salvo alguns farrapos decentes de tecido que ainda não foram atacados por suas unhas, o europeu assistiu atônito ao vulgo barraco que formava-se entre umas três... Não, quatro pessoas, dando uma risadinha sarcástica ao ver o loiro das tatuagens no meio. Oh, também havia um cara jogado ao chão e apontando com terror para uma lontra. Espera, uma lontra? Silas franziu o cenho ao visualizar o animal postado no colo da moça ruiva, arqueando ligeiramente o canto esquerdo da boca em uma expressão incrédula que manteve-se fixa ao tornar o olhar para a multidãozinha dos ‘galerosos’.

Qual era o fodido problema do tatuado? Credo, quanto mais convivia com essas criaturas mais desesperada sentia sua alma ficar. Silas então grunhiu suavemente, decidindo que o mais sábio a ser realizado no momento era buscar outras consciências normais. Assim, embora sua dor física estivesse quase excruciante, aproximou-se da ruiva sentada com a lontra e abriu um sorriso educado, tentando ao máximo ignorar a aura de morte que estava bem visível no cômodo. Sentia até um pouco de fumaça iniciar sua triunfal entrada e arriscava dizer que sentia pena do senhor que há pouco chegara. Na realidade, estava com pena de todos e de si mesmo – nossa, teve até peninha dos atingidos pelo spray de pimenta porque sabia como isso ardia para caralhos. Abaixado, seus olhos esverdeados fitaram o animal aquático e, apesar do cheiro horrendo do bichano, achou-a tão bonitinha que seu sorriso alargou-se e sua mão ‘boa’ deu uns tapinhas em sua cabeça úmida. Awn, que graça!

– Que bonitinha! É quase um colírio no meio de tanta porrada. – Riu brevemente, só então passando a prestar mais atenção à mulher mais alta. Tsc, acaso todos ali eram mais altos que ele? Com uma feição compadecedora, Silas sentou-se sobre as pernas ao seu lado e apoiou a nuca na parede, observando exausto o homem de feições latinas dirigir-se a uma porta. Levantar-se-ia, é claro, daqui a uns minutinhos. Não tinha tanta pressa assim. – Chamo-me Silas, e você? – Questionou à ruiva, logo percebendo o quanto a pergunta soava estranha ao considerar o contexto em que estavam envolvidos. Mas tudo bem, a situação em si não era nem um pouco normal. Forçou, porém, as pernas a levantarem-se ao perceber que o desconhecido distanciava-se. Poderia estar em casa, reassistindo Game of Thrones com Kora e Stark no colo e um pacote de salsichas na mão, entretanto sabia que essa era uma realidade muito, muito distante, e sentia que sua sorte estava para piorar.

Prudence G. Great
A situação chegou a um ponto tão engraçado, ao ver de Prue, que a loira parou de tentar puxar o mexicano para rir. A risada era baixa para evitar constrangimentos e ainda mantinha as mãos no braço do homem, o apertando para que não tentasse nada. Até parece que o homem iria ‘virar’ uma rasteira nela naquele estado, mas é uma garantia de que ele não apertaria nenhum botão de algum comunicador para chamar reforço.

Seu olhar pousou na figura serena de Ero, o médico que antes lhe fez um curativo, numa expressão intrigada. O moreninho se aproximou de toda a algazarra simplesmente espirrando pimenta no sarnento. Ah, aí sim Prue voltou a rir, com muito mais intensidade. Não durou muito tempo, no máximo cinco segundos, porém ainda sim os cadáveres a escutariam. Calou-se pelo fato de que policiais poderiam a escutar e, se morresse ali, iria ficar muito puta. Oras, tinha coisas pendentes em sua gangue, além de que precisa bater algumas metas e objetivos de vida. O tom sarcástico do garoto para o mexicano fez Prudence acordar de seus devaneios nada positivos sobre sua possível morte. Imaginou se esse garoto não era um Lucius da vida, ou algo do tipo, graças ao jeito ácido dele. Não o viu demonstrar nenhuma emoção se não a indiferença completa: tanto no quarto, a costurando, quanto aqui, ameaçando o homem. A loira tem noção de que todos ali têm algum envolvimento com criminalidade e logo devaneou sobre o que aquele ser misterioso poderia ser.

Logo que o cachorro começou a xingar, se remexer e o caralho a quatro, Prudence saiu daquele campo. Não queria levar porrada e nem spray, então se dedicou somente a escutar a conversa alheia. Mas, como uma Great, é um ser enxerido que crê que sua opinião é de exímia importância:

– Rapunzel albina, o moreno tosco ali– apontou para Isaac – tem razão. Ele não está perto da morte, muito menos longe, mas ainda pode nos dar certas informações com um pouco de... Persuasão. – Sorriu, de modo que exibisse somente o canto da arcada, onde o dente falso estava devidamente preso. Olhou para o moreno novamente, dando de ombros ao iniciar a fala.  – Sabe, até que não estamos tão na merda. Digo, você e Abel já eram! Porém o resto consegue tomar conta do próprio rabo. – O tom despreocupado e evidente surpreendeu até Prue. Ela suportava os dois, entretanto não temia que eles se ferrassem ali. Ah, vai, se eles não morreram naquele tiroteio, nunca mais se vão (infelizmente, para o planeta).

Girou, a fim de observar se toda a briga se encerrou, mas acabou por ver Santhiago se arrastar, com tanta dificuldade quanto um velho, pelas paredes da casa. Uma risada cínica escapou dos lábios secos da loira, decidida a sacanear o cara. Andou relaxadamente pelo cômodo, como se a casa nem estivesse em chamas e prestes a desabar. Ao chegar perto do homem, chutou com severidade seu calcanhar e riu de seu esforço extremo para não desabar no chão. – Babacão, agora você vai vir aqui... – Murmurou, se referindo a Santhiago. Sacando a arma de sua peça, a apontou para a nuca do mexicano, esperando que ele continuasse a guia-los e garantindo que ele iria sair primeiro, porém não tão longe de si, não o dando oportunidade de fuga ou chamar reforço.

Se passaram alguns segundos enquanto continuava a fitar clinicamente a cara inchada e ferrada do homem burro, e só constatou que provavelmente ele iria ter alguma sequela se sobrevivesse mais algumas horas. Enfim viu o latino começar a se levantar e se pôs de pé sem qualquer problema, ajeitando de leve o paletó que ainda o cobria perfeitamente; bem como todo o resto da vestimenta alugada para a maldita festa.

No entanto, assim que a criatura ensanguentada se levantou, deu uma olhada ao redor e percebeu que, além de ver pessoas que não havia reparado, um dos caras que estavam tentando segurar Seth apontava uma arma para o loiro. Sonero levantou levemente uma das sobrancelhas com a cena e pensou que talvez o rapaz fosse mais efetivo no que queria fazer se falasse alguma frase de teor relativamente imperativo. Afinal, o alemão estava mais preocupado com seus olhos e provavelmente não veria uma pessoa apontando uma arma para sua cabeça e, se visse, não faria muita diferença. Não que o italiano soubesse muito sobre Seth ou como pará-lo - afinal era a prova viva de que ele era praticamente imparável só por ser doido daquele jeito - mas tinha a impressão de que ele manteria mais o foco nos olhos em pura ardência.

Enfim soltou um suspiro calmo e voltou o olhar para o homem cambaleante que se segurava nas paredes para andar até a suposta saída, ainda sendo atrapalhado pela moça a qual Sonero havia tratado há alguns minutos. Mas, sinceramente, já estava afogado em sua concepção de que não saíria vivo daquela situação e só fazia o mínimo para sobreviver naquele momento, sendo tão racional e indiferente que parecia estar num dia normal de sua vida, portanto, não ligava mais para a burrice e balbúrdia alheia.

Sem ver o que estava acontecendo com os demais, somente deixou seu olhar seguir o homem que parecia estar ainda mais dolorido com a presença ameaçadora da loira que apontava a arma para sua nuca. O italiano somente os seguiu com sua usual falta de ânimo até que o latino abrisse uma porta com certa debilidade, mas, assim que o lado de fora foi visto, Sonero teve a sensação de que aquilo parecia uma armadilha, afinal, que belo local para se parar quando se está tentando escapar de um incêndio: o lado de fora. Entretanto, só o que fez foi esperar que as outras duas passassem pela porta, se certificando de que era relativamente seguro, e, enfim, estavam do lado de fora, menos sufocante e ligeiramente menos perigoso que a mansão sendo engolida por chamas. Na verdade era até surreal o contraste da noite com os tons quentes que banhavam a mansão e o fato de ter prestado atenção nesse tipo de besteira só por ter finalmente avistado o céu escuro do lado de fora.